13 de abril de 2009

Ensaio sobre o cigarro

Esse devia ser o nome da lei do Serra sobre o cigarro. Que até agora só li gente sentando o cacete. Coincidentemente, as opiniões eram de fumantes.

Claro que se proibissem alguma coisa que eu gosto muito eu também ficaria puto. Lembro, por exemplo, que quando eu era moleque, e skatista, o Jânio quis proibir o skate em São Paulo. É ridículo, o Jânio era um véio gagá, mas apesar de diferença óbvia na categoria de proibidos, tem muitas semelhanças entre as duas proibições.

O Skate, alegava o nada saudoso político, era prejudicial à cidade. Destruía o patrimônio público, punha em risco a população, que podia ser atingida por um skate na cabeça e, principalmente, skatista era tudo marginal. O cidadão de bem poderia ser assaltado por um desses elementos, que fugiria em seu skate em alta velocidade. Sem contar que o barulho dos skates contribuía para a poluição sonora da cidade.

No caso do cigarro, por mais diferente que seja, também tem esse lado de ser prejudicial à cidade. Afinal, todo fumante que eu conheço, não se importa nem um pouco de jogar o cigarro no chão e pisar em cima, como se bituca não fosse lixo. Também coloca em risco o cidadão que está por perto e não quer fumar, mas acaba aspirando a fumaça alheia. E é óbvio que eu não vou dizer que todo fumante é um marginal que pode assaltar o cidadão de bem.

Infelizmente não é possível fazer uma lei implementando o bom senso. Ou proibindo a chatice. Falta bom senso dos dois lados, tanto de fumantes quanto de não fumantes. Dos fumantes de fumar exageradamente em ambientes fechados, mesmo quando permitido. Em restaurantes, várias vezes o limite entre a área para fumantes é um corredor entre as mesas. Mas ainda não ensinaram a fumaça a respeitar. E dos não fumantes em entender que cigarro é um vício e não é fácil (pelo menos é o que me dizem) largar de uma hora para outra. Se não quer ir num lugar e sair cheirando a cigarro, vá onde as áreas de fumantes são fisicamente separadas. Quer sair com amigos que fumam? Então não reclame do fumacê. Ou os convença a não fumar enquanto estiveram com você.

O ponto principal do problema, aqui, não é quem fuma e quem não fuma, nem onde e nem quando. O negócio é que está ficando cada vez mais difícil a convivência entre pessoas que pensam de forma diferente. A intolerância a idéias diferentes da sua própria está se tornando comum a ponto de aceitarmos qualquer medida, ditatorial que seja, para só estarmos perto de nossos iguais.

Meus pais e minha irmã fumam. Na minha casa, não fumam. Me faz mal, eu não quero, ponto. Conversamos civilizadamente e eles vão fumar na rua quando estão em casa. Do mesmo jeito, na casa deles, as regras são deles. Se querem fumar, fumam, eu saio de perto e acabou o drama. Tenho poucos amigos mais próximos que fumam. Não me lembro de ter ido a um restaurante com fumo liberado ou áreas próximas e ter ficado nele. Azar do dono, que perdeu um cliente. Compensa em fumantes, talvez.

Sei que cada dia mais, confunde-se segmentação com segregação. Encontrar pessoas com interesses parecidos com o seu é ótimo, mas desprezar e até mesmo hostilizar quem tem pontos de vista e hábitos diferentes não é segmentação. É preconceito. Burrice.

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