Outro que é campeão em contar causos, é meu avô paterno, de quem herdei o nome (até onde sei chamo Paulo por causa dele, assim como meu pai chama Paulo por causa do avô dele!).
O véio tem 91 anos e várias histórias para contar. Uma delas, a da Mula sem Cabeça, é a que eu mais gosto.
Conta o véio que, no idos de 1900 e Dercy Gonçalves, ele morava em São Paulo, em Moema, recém casado com a minha avó e, segundo ele conta, naquele tempo Moema era um baita meio de mato, longe que só do centro da cidade. E, como era normal entre a italianada da época, todos os parentes moravam perto.
E uma bela noite, ele se preparava para dormir quando escuta umas pauladas na janela e a voz do cunhado, desesperado:
- Paulo, Paulo, abre pelo amor de Deus, me ajuda!
E ele, com o coração a mil, abriu, o cunhado branco de medo:
- É a mula, Paulo, me ajuda, a mula!!!!
- Que mula, rapaz, tá doido? A gente não tem nenhuma mula!
- A mula sem cabeça, tá aqui, vamos lá!!!
Meu avô catou a bereta, espingadinha da família, e lá foram os dois atrás da mula, com o cunhado dele explicando:
- Eu acordei com vontade de ir no banheiro. Aí quando estava levantando, ouvi alguém batendo na minha janela, até achei que era você. Quando abri, tava lá ela, a mula sem cabeça, batendo com a pata de trás na minha janela. Quase me borrei, vamos lá, vamos tentar espantar a bicha, ou matar, mesmo!
Chegando lá, viram a mula. Andando tranquilamente perto da janela. Levantaram o lampião:
- Vai Paulo, atira.
- Espera, tem um negócio esquisito.
- Claro que é esquisito, é uma mula sem cabeça, tem que ser esquisito.
- Não, o esquisito é que a mula tem cabeça, olha lá. Aponta o lampião direito ali.
Quando iluminaram a área, tava lá, um cavalinho, sossegado, pastando.
Deram a volta por trás do cavalo e, olhando pela janela, o cavalo com a cabeça abaixada pastando, iluminava só o corpo e a cabeça sumia na escuridão.
- Mula sem cabeça, seu cagão?
- Eheheheheh, mas parecia, quando olhei.
- Parece que você é um covarde, isso sim.
- Ah, olhando daqui olha como parece...
Nisso, o cavalo levanta a cabeça, olha para os dois e sai andando, tranquilo, para um lugar mais afastado. Até hoje, quando conta a história, ele me fala:
- Acho que foi mesmo pastar em outro lugar mais sossegado, que a nossa discussão tava é atrapalhando o coitado...
26 de julho de 2007
Falando em causos...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário