Lembro da primeira vez que assisti Harry Potter. Eu detestava ouvir falar de Harry Potter e Senhor dos Anéis, que achava que era mais ou menos a mesma coisa. Eu estava morando lá em Petrópolis e, new guy in town, não conhecia ninguém e esgotei os títulos da locadora perto de casa. Chegou um dia que eu não tinha assistido os Harry Potters, Senhor dos Anéis (tinham dois de cada, acho) e o DVD do casamento do cara.
Eu não tinha assistido justamente porque eu era totalmente contra o hype em volta do Harry Potter. Achava (e ainda acho) que essa histeria toda em volta da história é meio ridícula. Mas gostei do primeiro filme. A história, bobinha, para crianças, era encantadora. Afinal, que moleque ou menina de 11 anos não quer acordar um dia e descobrir que é, na verdade, um bruxo ou bruxa, tem poderes que os outros não tem e, em vez de ir para uma escola normal, vai para uma escola onde aprenderá mágicas, poções, voar em vassouras, esportes mágicos e por aí afora? Eu tinha que admitir: era uma história apaixonante e uma idéia extremamente inteligente.
Um dia caiu o livro na minha mão, também meio sem querer, e devorei. Li "A Pedra Filosofal" em uma tarde, mesmo já tendo visto o filme. E, como de costume, achei o livro muito melhor que a adaptação para as telonas. Depois li todos os outros, rapidinho. A Câmara Secreta, o Prisioneiro de Azkaban (o melhor filme), O Cálice de Fogo, A Ordem da Fênix (o melhor livro), The Half-Blood Prince (detestei a tradução) e ontem terminei de ler The Deathly Hallows. Aliás, um aviso: Já tem gente achando que a tradução do último título será As Relíquias Mortais. Até pode ser, mas eu acho que As Relíquias da Morte seria mais correto, por causa da história.
E o "Deathly Hallows", que é supostamente o último livro da série, mostra que a autora realmente tinha uma história de sete livros na cabeça. Claro que eu não vou contar o que acontece e como termina, mas o fato é que o sétimo livro é extremamente fiel à história como um todo. E a história, mais do que qualquer outra coisa, é sobre uma guerra.
Que começou muito antes do Harry Potter nascer e também antes do próprio Voldemort nascer. Corrompeu alguns bruxos famosos, quase fez com que os mais famosos perdessem a cabeça numa batalha para dominar o mundo, não só o mundo bruxo como todo o mundo e depois se dividissem, principalmente em relação ao que pensam dos que não são bruxos, como os Muggles (trouxas, humanos não bruxos), mas também em relação aos Elfos, Centauros, Gigantes, Goblins e outras criaturas mágicas.
O sexto livro mostra muito como Harry e Voldemort são parecidos. Como o mesmo caminho foi colocado na frente dos dois e como cada um percorreu o caminho de uma forma diferente. Harry se sente feliz em descobrir que é bruxo porque terá, enfim, uma vida em que será igual aos seus amigos, já que até então não tinha nenhum. E Voldemort, ao contrário, se sente feliz justamente por ser diferente, por poder ser melhor do que todos que o maltrataram até então.
O sétimo livro conta como a guerra finalmente escancarou, como os lados se dividiram, como cada um escolheu seu lado e como essa escolha afetou cada um dos personagens. Como em toda guerra, morre gente prá dedéu. Dos dois lados. A autora já tinha mostrado que não tem o menor problema em matar personagens, mesmo que importantes, em prol da história. E isso é uma constante no último livro. Que é, também, o desfecho de cada uma das linhas a serem seguidas: como Voldemort acredita numa linha e se mantém fiel a ela e como Harry, mesmo em dúvida, acredita na outra até a hora do último teste, em que tem que ter mais fé do que força.
Do lado bom, a narrativa coerente, as pontas soltas sendo amarradas e uma ação insana no final. Os últimos capítulos são daqueles que você não consegue largar o livro de jeito nenhum. Do lado ruim, algumas perguntas ainda ficam no ar, mesmo depois que o livro acaba. Claro, pode ser que seja intencional, pode até ser uma maneira de cada um imaginar o final que quiser, mas eu gostaria de ler algumas coisas que não estão ali... Se bem que isso mantém uma porta aberta para mais livros, aqui entre nós.
Entre as perguntas que não me saem da cabeça: o que acontece com a Umbridge? E com os bruxos das trevas? E com os seres mágicos? Quem virou Ministro da Magia? Quem virou diretor de Hogwarts? Quem, além dos que a gente já sabe, ficou com quem? Os que morreram, como foram lembrados? Quem cuidou do órfão? E, se o Garoto que Sobreviveu já era famoso, o que ele virou depois do que aconteceu?
Sete livros com uma história extremamente apaixonante, num mundo excepcionalmente criado para agradar pessoas de todas as idades e totalmente coerente com o que se propôs desde o começo. Justamente por isso, achei que final, extremamente focado em um grupo pequeno de pessoas, não faz jus ao detalhamento criado até então. A história terminou, o ciclo fechou. Mas o final parece um pouco escrito às pressas.
30 de julho de 2007
Deathly Hallows
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário