- Ele não sabe.
- É claro que sabe, não seja ingênuo! - respondi.
- Ninguém aguenta tanta pancada sem falar o que seja para se livrar.
- Aguenta. Existem idealistas que acham que isso é bonito. Poético. São pessoas que acreditam que esse tipo de sofrimento farão com que sejam lembrados para sempre, os tornarão imortais. Bobagem! Nós sabemos que a história é contada pelos vencedores, não pelos vencidos.
- Mas Cam...
- NÂO - gritei - diga meu nome. Não aqui. Não confie nunca em paredes, vidros, portas. Ele pode ouvir. Esse pessoal é pior do que imaginamos.
- Tudo bem. Vejo que discutir é inútil.
- Fato. E assim que ele apagar, mande limpar a sala. Quando ele acordar, quero tudo impecável, como mágica. Certifique-se de que ele esteja inconsciente enquanto estiver fora da sala.
Saí da construção que encomendamos justamente para esse fim - obter informações - quando começava a anoitecer. Mas não despreocupada. Alguns de nós ainda acham que eles são tão ignorantes quanto querem nos fazer acreditar que são. Tinha medo que alguém pudesse ser ludibriado e ele, então, saberia quem somos e isso colocaria tudo a perder.
Em cinco anos nesse trabalho, aprendi que só uma combinação de fatores faz com que alguém treinado me dê as informações que quero. E um dos mais importantes é a desorientação. Dor, fome, sede, tudo é suportável, desde que você acredite que é parta de um plano maior. Mas desorientação te trai. Ela faz com que você fale o que sabe, mesmo sem querer, desde que faça com que sua mente volte a sentir que tem algum controle na situação.
Ele sabe porque está lá, ele sabe o que quero saber, ele sabe que está no controle. Mas não sabe onde está, não sabe há quanto tempo e não sabe como foi parar lá. Também não sabe o tamanho do lugar, deve pensar que só temos uma pequena sala branca. E mais importante: ele não sabe que não está sozinho.
Enquanto dirigia para casa, apenas um pensamento na minha cabeça: quanto tempo demorarei para conseguir as informações. Talvez devesse fazer várias sessões, deixando-o inconsciente, limpando a sala, voltando com se estivéssemos em outro dia, fazendo com que ele pense que vários dias se passaram. Em uma semana, poderia fazer com que ele pense que já se passaram alguns meses. E em alguns meses, planos são desfeitos, pessoas são mortas, idéias desaparecem. E é isso que ele deveria acreditar.
...
- E aí? O cara apagou?
- Total. Não viu a surra que levou? Horas apanhando. Cara, eu entregava até a minha mãe. A mulher bate sem dó.
- Mulher... Desde quando aquilo é mulher? Levanta o cara. Vamos colocar numa solitária. Mesmo que acorde, vai estar escuro que nem aqui, nem vai se ligar que saiu.
Eu ouvia, mas não mostrava nenhuma reação. Eles não podiam desconfiar que eu estava consciente. Mas os dois falavam tranquilamente, quase como se eu estivesse morto. E eu estava longe disso. Minutos antes, tinha ouvido a mulher que passou o dia comigo gritando "NÃO". Não o quê?
Pela conversa dos dois, eu deveria achar que estava sempre no mesmo lugar. Isso é interessante. Entendo a estratégia. Mas como sair daqui?
Me colocaram em um tipo de maca. Pelo som dos sapatos, contei 152 passos de onde estava até a solitária que me colocaram. O lugar é grande. Tem mais gente aqui comigo. Será que falaram alguma coisa? Ela disse que me entregaram, quantos mais teriam sido descobertos? Mesmo assim, eles ainda não sabiam se tinham todos. Não sabiam nosso tamanho.
Tive que fazer um esforço sobre humano para não sorrir, quando naquele momento, entendi: "Ainda não sabem em quantos somos!"
15 de junho de 2007
Respostas - Parte 2
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Um comentário:
Estou adorando. E ansiosa para saber se valeu a pena.
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