9 de fevereiro de 2009

O mundo ficou chato

Antes, todo mundo falava, em tom de profecia: "O mundo está ficando chato!" Pois é, cabe a mim o papel de arauto da destruição, portador de más notícias. O mundo JÁ ESTÁ chato. Não sei quem foi o filho da puta que inventou o tal do Politicamente Correto, que nada mais é que o jeito politicamente correto de ser chato, mas esse cara devia ser queimado na fogueira da anarquia enquanto se afogava num oceano inacabável de hipocrisia.

Porque eu quero saber quem é o cara, por mais chato, digo, politicamente correto, que seja, que nunca chamou um negro de "Negão", nunca fez uma piada sobre uma deficiência de alguém ou que mesmo nunca tenha desejado, no confinamento secreto do lar, que um adversário entrasse em combustão espontânea.

Um dos exemplos é o trote da faculdade. Até os trotes agora são politicamente corretos. Daqui a pouco vão baixar um manual do trote. Eu fugi do trote quando entrei na faculdade porque era cabeludo. Um monte de gente se ferrou, ninguém reclamou. Não participei do trote porque não quis e não me arrependo. Faz parte do caos inerente à tudo que é anárquico essa coisa de não ter script. Quem quer me dar trote que me ache. Eu não quero passar por ele, me escondo. Rola uma interação entre calouros e veteranos no trote? Porra nenhuma? Nego nunca mais se vê e nem se fala. Uns querem mostrar que são "donos"(porra nenhuma) da faculdade e outros querem mostrar para a sociedade que passaram no vestibular. Eu acho uma babaquice, mas se tem quem goste, foda-se.

Hoje é normal, ao se ler a crítica de um show, filme, qualquer coisa, que seja mais forte ou mais engraçado, a expressão-clichê "deliciosamente politicamente incorreto". Que é o jeito politicamente correto de dizer que o negócio não é chato. Ou seja, até para não ser chato, tem que ser chato, ao menos na explicação. E o pior: mesmo o cara chato, que criticou e achou legal, sabe que está errado.

Prá mim, não existem coisas erradas. Existem situações em que as coisas FICAM erradas. Pode ser uma hora errada, uma entonação errada, uma expressão errada, em que a coisa FICOU ou PARECEU errada. É quando a gente pensa "perdi uma chance de ficar quieto". Aí não é questão de ser politicamente correto ou não. É questão de educação e inteligência (ou falta das duas coisas).

Eu, por exemplo, chamo meus amigos negão de negão, os gordos de gordo, meus pais de véio, conto piada até em velório, encho o saco de todo mundo e não dou a mínima para quando enchem o meu. Em compensação, detesto falcatrua, não dou grana pro guarda prá escapar da multa, e tem assuntos, como violência contra mulheres e crianças que me deixam doido de ódio só de ouvir. Isso não quer dizer que eu sou politicamente isso ou aquilo.

Quer dizer que eu sou humano.

Um comentário:

Padu disse...

Pois é... Aí ligo na Saraiva pra comprar pra Dra Vera, o livro do Theotônio Negrão. Peço pra atendente colocar na NF o nome do autor como Theotônio Grande Afrosulamericano.. Afinal não queria ser processado. Mas ela não entendeu nada! Então não consigo ser politicamente correto....